quinta-feira, 20 de março de 2014

O VALIOSO TEMPO DAS PESSOAS MADURAS

     Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras ela chupou displicentemente. Mas, percebendo que faltam poucas, rói até o caroço.
     Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
     Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
     Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
     Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da adiantada idade cronológica, são imaturas.
     Detesto fazer acareação de desafetos que brigam pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
     As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos.
     Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
     Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade...
     O essencial faz a vida valer a pena.
     E para mim, basta o essencial.
Mario de Andrade

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Mário Raul de Morais Andrade 


Nasceu em São Paulo no dia 9 de outubro de 1893.
Sua influência foi decisiva para o Modernismo se fixar definitivamente no Brasil.
Estudou música, foi professor de piano, compositor, pesquisador (interessava-se pelas várias manifestações artísticas), estudou e escreveu sobre folclore, pintura (contribuindo para a renovação da arte brasileira), além de ter sido crítico de arte em jornais e revistas.
Em 1917, escreveu seu primeiro romance sob o pseudônimo de Mario Sobral: “Há uma gota de sangue em cada poema”, nessa obra Mário de Andrade defendia a paz e criticava a Primeira Guerra Mundial e todas as conseqüências que ela causou.
Viajou o Brasil inteiro para pesquisar e conhecer. Visitou cidades históricas, conheceu poemas e canções populares, festas religiosas, lendas, músicas indígenas e etc.

Entre os anos de 1923 e 1930 escreveu “Clã do Jabuti” e “Remate de males”, frutos de suas pesquisas folclóricas. Andrade foi a força motriz por trás da Semana de Arte Moderna, evento ocorrido em 1922 que reformulou a literatura e as artes visuais no Brasil, tendo sido um dos integrantes do "Grupo dos Cinco". 
Também em 1922, publicou “Paulicéia Desvairada”, obra que na época agradou aos modernistas porque destruía os padrões literários vigentes e propunha uma nova linguagem poética (verso livre, neologismos, rupturas sintáticas).
A partir de 1930, a poesia de Mário de Andrade se volta para a reflexão, análise e denúncia dos problemas nacionais tomando dois caminhos:
  1.  Poesia intimista e introspectiva: destaca-se a obra “Poesia”, de 1942. 
  2. Poesia política: caracterizava-se por ter uma linguagem agressiva e combater as injustiças sociais. Destacam-se as obras “O carro da miséria” e “Lira Paulistana”, ambos de 1946. 

Macunaíma


Considerada a obra mais importante da primeira fase modernista.
Para compor esta obra, Mário de Andrade se inspirou na obra do etnógrafo (de etnografia, significa, segundo o dicionário Aurélio: disciplina que tem por fim o estudo e a descrição dos povos, sua língua, raça, religião, etc, e manifestações materiais de sua atividade) Koch-Grünberg “Vom Roraima Zum Orinoco” (um conjunto de lendas dos índios Taulipangues e Arecunás).
Mário de Andrade chamou essa obra de rapsódia (nome que na música significa composição que envolve uma variedade de motivos populares). Porém, também pode ser chamada de Romance pois apresenta semelhanças com os romances medievais.

Características da obra Macunaíma 

Vocábulos indígenas e africanos 
Gírias 
Provérbios 
Ditados populares 
Modismos 
Anedotas da história brasileira 
Erotismo 
Surrealismo

O fantástico se confunde com o real 
Superstições 
Aspectos da vida urbana e rural do Brasil 

Outras obras 

A escrava que não é Isaura (ensaio) 
Primeiro de maio (conto) 
Peru de natal (conto) 
Vestida de Preto (conto) 
Losango cáqui (poesia) 
Primeiro Andar (conto) 
Contos Novos (conto) 
Os filhos da Candinha (crônica) 
Amar, verbo intransitivo (romance) 
Macunaíma (rapsódia) 
O Empalhador de Passarinho (ensaio) 

Mário de Andrade morreu em São Paulo em 1945 e atualmente é considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira.
Muitos pensam que ele e Oswald de Andrade tinham algum parentesco; porém, não é verdade. Os dois se conheceram em 1917 e por alguma razão desconhecida, essa amizade terminou em 1929.





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